O ESTILO
Sempre gostei das coisas simples. Tudo que não é simples, com algumas exceções,
parece-me inseguro, artificial, precário. Se examinarmos com cuidado, veremos que as
grandes realizações do gênero humano partem de princípios simples, não obstante sua
aparente complexidade. Na Arte - também com algumas exceções - a simplicidade é quase
sempre o toque do gênio. E na literatura, idem. É verdade que existem escritores de
vocabulário rico e preciso, de idéias abrangentes e profundas, cuja maneira de escrever
parece sofisticada e rebuscada. Mas quando se trata de um verdadeiro talento - um Euclides
da Cunha, por exemplo - a forma erudita de se expressar, que para o leitor comum parece
algo inacessível, para o escritor é simples, não obstante a aparência em contrário. E
que ele realmente domina o idioma e a arte de escrever. Outros, não menos geniais e não
menos profundos, conseguem expressar-se de maneira acessível a todos os leitores. Um
José de Alencar, um Saint-Exupery, por exemplo. A discrepância, porém, a tragédia
literária que beira o ridículo ocorre - e os exemplos são muitos - quando um candidato
a escritor, com o dicionário a tiracolo, tenta manifestar-se através de termos empolados
(que não lhe são familiares e portanto quase sempre usados inadequadamente), numa
dialética obscura que confunde mais do que esclarece.